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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Ano Global IASP 2023 – Terapias Integrativas na Dor

Terapias Complementares e Integrativas nas migrâneas

A migrânea ou popularmente conhecida como enxaqueca, é um distúrbio neurológico que afeta aproximadamente 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, predominantemente mulheres. De acordo com o Estudo Global Burden of Disease, em 2016, a migrânea é a segunda principal causa de incapacidade quando comparada a outros distúrbios neurológicos. O tratamento dos pacientes com migrânea crônica é desafiador devido a sua patogênese não ser completamente compreendida.

 

A terapia farmacológica constitui a primeira linha de tratamento, incluindo medicamentos abortivos e preventivos. Porém, as opções farmacêuticas têm muitas limitações, como preferência do paciente, efeitos colaterais, eficácia limitada, comorbidades, gravidez e amamentação. Além disso, a ineficiência do tratamento preventivo leva os pacientes com enxaqueca ao uso excessivo de medicamentos para alívio dos sintomas ocasionando o agravamento da intensidade e frequência da migrânea. Estas limitações podem explicar porque que até 82% das pessoas com migrânea recorrem às Terapias Complementares e Integrativas (TCI) para encontrar alívio dos sintomas. Vale ressaltar que os fatores do estilo de vida podem desencadear ou influenciar a presença de crises individuais nos quadros de migrânea, o que torna a TCI uma abordagem não farmacológica viável para a prevenção e gestão da migrânea.

A TCI é definida como um grupo de diversos sistemas, práticas e produtos médicos e de saúde que atualmente não são considerados medicina convencional. Os tratamentos que se enquadram na categoria das TCI mudam ao longo do tempo, à medida que tratamentos que antes eram considerados “alternativos” podem obter evidências suficientes para serem aceitos como convencionais. Fatores de estilo de vida, práticas mente-corpo, acupuntura, suplementos e terapia manual são modalidades atualmente consideradas TCI. Até o momento, algumas pesquisas concluíram que a eficácia de certas terapias da TCI é promissora.

Atualmente, estão surgindo evidências de qualidade para o tratamento da migrânea com práticas mente/corpo. Por exemplo, ioga e meditação, mindfulness se mostram benéficas em alguns estudos clínicos randomizados para as migrâneas, reduzindo a frequência, intensidade ou mesmo a dimensão afetiva da dor. Uma melhora no equilíbrio entre a amígdala cerebral (redução da ativação) e o córtex pré-frontal (ativação) são mecanismos neuromodulatórios possíveis. Mecanismos cognitivos e afetivos adicionais podem estar desempenhando um papel na modulação da dor por meio dessas práticas mente/corpo. Apesar das recomendações da American Headache Society contra os opioides no tratamento de migrânea, muitos pacientes recorrem aos opioides, gerando desde a cronificação da doença até parcela das mortes por abuso. Nesse contexto, práticas mente/ corpo podem ser uma opção não farmacológica para obter alívio da dor e melhora na qualidade de vida.

Há um número crescente de revisões sistemáticas e ensaios clínicos sobre acupuntura no tratamento deste tipo de cefaleia. Alguns mostraram vantagens potenciais na redução da dor e na melhoria da qualidade de vida ou menor uso de medicação de resgate com efeitos adversos leves do que a terapia padrão. Apesar das limitações secundárias à baixa qualidade e às restrições metodológicas dos estudos incluídos, a acupuntura parece ser um tratamento e prevenção emergente da enxaqueca, juntamente com a medicação. Além disso, tem efeitos mais duradouros, é seguro, parece ter boa relação custo-benefício e reduz a ingestão de medicamentos com possibilidade de efeitos adversos indesejados graves.

Embora algumas pesquisas sugiram que as TCI podem levar mais tempo para apresentar benefícios, seu efeito potencial pode ser mais duradouro ao longo do tempo, melhor tolerado e pode conferir outros benefícios ao bem estar geral, como melhorias no estresse, qualidade de vida, dor, ansiedade e depressão. Persistem ainda dúvidas em relação à dose, frequência, duração, eficácia e mecanismos ideais. Com isto, são necessárias mais pesquisas com dados de longo prazo, amostras maiores e grupos de controle ideais. Espera-se que pesquisas futuras ajudem a elucidar quais terapias complementares e integrativas são mais eficazes para pacientes com migrânea.

Joelma Magalhães Fisioterapeuta – Manaus/AM
Natasha Leitão Dentista – Manaus/AM
João Batista Alves Segundo Neurologista – Teresina/PI

COMITÊ DE CEFALEIA
Terapias Complementares e Integrativas nas migrâneas
Ano Global IASP 2023 – Terapias Integrativas na Dor

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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