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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Ano Mundial Contra a Dor na Mulher

 

A dor continua sendo um desafio e uma forma importante de sofrimento para toda a humanidade, apesar de tantos progressos alcançados à luz dos conhecimentos oriundos da ciência básica e da experimentação clínica, além do emprego de técnicas modernas e tecnologicamente avançadas.

Estudos mostram que até 40% das pessoas submetidas a intervenções cirúrgicas referem alívio inadequado ou dor aguda pós-operatória de moderada a forte intensidade. Crianças em unidades de terapia intensiva sentem continuamente dor após procedimentos invasivos. Em algum momento na vida, 15 a 25% de adultos sofrerão de dor crônica e, em indivíduos acima de 65 anos, este percentual aumenta para 50%. Segundo relatório da anistia internacional de 2006, a tortura ainda é uma causa de dor em mais de 100 países no mundo.

É possível observar não só conseqüências físicas em pacientes com dor persistente Alterações psíquicas, tais como ansiedade, depressão, interferência com o sono e prejuízo da concentração estão presentes com maior freqüência. Ainda, problemas sociais e econômicos acompanham o quadro, como dificuldade em trabalhar e gastos governamentais da ordem de bilhões de dólares anuais em alguns países.

Diante de todo este quadro, a IASP, com apoio da OMS e de outras instituições tem desenvolvido inúmeras ações no combate à dor. Uma destas foi a criação do Dia Global Contra a Dor em 2004 e o Ano Internacional e Controle da Dor, que foi iniciado com a abordagem da dor na criança(2005-2006), no idoso(2006-2007) e agora na mulher(2007-2008).

A mulher tem sido historicamente vítima de preconceito e segregação, com inacreditáveis relatos de violação de seus direitos mais básicos, apesar de uma luta contínua em busca de igualdade nas últimas décadas. A violência contra mulheres é uma realidade comum em várias sociedades, e pode ser de diferentes formas, contudo a violência física é a mais comum, principalmente no lar, tornando-se um importante fator para a transmissão de doenças sexuais, como a SIDA, para o aparecimento de gravidez não desejada e para a realização de abortos. Ainda, mulheres em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento têm uma grande parcela de sofrimento. Na África, estima-se que quase 70.000 mulheres morrem anualmente de câncer de colo uterino, muitas sem tratamento da doença ou da dor oncológica. A mortalidade materna é de 1:16 na África, 1:65 na Ásia e 1:1400 na Europa, o que pode traduzir uma explosão de complicações, que ocorrem sem assistência e cuidados médicos.

Isto já justifica uma atenção especial, mas além disto, estudos indicam que o sexo feminino sente mais dor e tem maior risco de experimentar inúmeras condições dolorosas. Assim, é mais comum em mulheres dores em pescoço e ombros, no abdômen, cefaléias tipo tensão, enxaqueca após a puberdade, distúrbios da ATM e outras. Estudos mostram uma relação mulher:homem de prevalência de condições dolorosas da ordem de 1,5:1 em dor lombar, no ombro e joelhos, 2:1 em dor orofacial, 2,5:1 em migrânea e 4:1 em fibromialgia.

Várias pesquisas têm sido realizadas para identificar e justificar diferenças da percepção dolorosa entre as mulheres. As alterações hormonais são um alvo em evidência, uma vez que podem influenciar a experiência da dor, especialmente as flutuações de estrógeno, que podem aumentar a expressão do fator de crescimento neural, o número de sinapses excitatórias no hipocampo, a ligação do glutamato ao receptor NMDA e potenciais pós-sinápticos excitatórios. Mulheres têm depressão mais comumente que homens, o que está relacionado à dor e pode ser um fator de risco adicional no sexo feminino.

Há várias síndromes dolorosas que são específicas do sexo. A dismenorréia é extremamente comum, afetando 49-90% das mulheres e em até 15% dos casos, a dor chega a ser excruciante, atingindo principalmente adolescentes e adultas jovens, o que causa significante absenteísmo nas escolas. Em muitas culturas, a menstruação é vista como um tabu e como algo impuro, o que resulta em uma certa relutância em referir a dor e a procurar auxílio médico.

Dor pélvica crônica de origem ginecológica(ex. endometriose, infecção) ou não(ex. síndrome do colón irritável, dor musculoesquelética e neuropática) pode ter uma prevalência de até 15% em mulheres em idade reprodutiva e corresponde a 10% de todos os atendimentos médicos a mulheres. Quando comparadas com mulheres sem dor pélvica, as portadoras da síndrome foram submetidas cinco vezes mais a procedimentos cirúrgicos.

Vulvodinia com sensação de facada, prurido e queimação pode atingir até 18% de mulheres, na ausência de infecção, lesão de pele, doença metabólica ou neoplásica. Atinge mulheres de todas as idades, mas o início das queixas normalmente ocorre entre 18 e 25 anos, sendo menos comum após os 35 anos. A vulvodinia é um dagnóstico de exclusão e várias causas devem se afastadas, necessitando de uma avaliação ginecológica detalhada. Pode ter um componente genético ou neuromuscular e pode estar associada a abuso físico e sexual em alguns casos.

Durante a gravidez, aproximadamente 45% das mulheres experimentam dor lombar baixa e pélvica, que pode ocorrer no pós-parto em 25% dos casos.

A dor no parto é quase universal, chegando a números assustadores como em 95% dos trabalhos de parto. Está relacionada a vários fatores, como paridade(nulíparas sentem mais dor que multíparas), e presença de dor lombar durante a gravidez. Quando comparada a outras condições dolorosas através da avaliação pela escala multidimensional de McGill, a dor do parto foi mais intensa que a dor do câncer e a dor de uma fratura óssea.

Há diferenças na resposta aos opióides entre homens e mulheres, sugerindo que o sistema opióide endógeno possa ser variar entre os sexos, com uma sensibilidade possivelmente maior dos homens. Entretanto, nosso conhecimento atual ainda é escasso para estabelecer diferenças no tratamento da dor entre os sexos.

A SBED apóia firmemente mais esta iniciativa da IASP e espera poder contar com as sociedades e organizações voltadas à saúde da mulher em nosso país na busca de diretrizes para a otimização do atendimento da dor nesta população e no incentivo de estudos científicos que possam contribuir para esclarecer os freqüentes questionamentos nesta área.

João Batista Santos Garcia DIRETOR CIENTÍFICO SBED

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