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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Impacto da Dor em Cães Internados

O estresse causado pela dor é o principal fator desencadeante de alterações fisiológicas em cães internados, devendo-se estabelecer como meta sua prevenção e tratamento, a fim de reduzir o sofrimento, otimizando o apetite e qualidade de sono, reduzindo vômitos, disforia, minimizando assim o tempo de internação.

Pacientes internados são frequentemente portadores de dor aguda, que pode ser entendida como um sinal de alarme, devendo o profissional atentar a possíveis danos teciduais ainda não diagnosticados, ou dores crônicas, onde a doença de base pode já ter sido sanada, mas a dor ainda se faz presente.

Conforme já é amplamente sabido, a dor é um fenômeno multifatorial, incluindo fatores emocionais e ambientais, e a analgesia multimodal deve sempre ser adotada na medicina veterinária como padrão ouro no combate à dor, adequando, individualmente, estratégias não- farmacológicas e farmacológicas como ferramentas terapêuticas.

Em 2017, trinta e dois especialistas em tratamento da dor em seres humanos internados e pesquisadores, reuniram-se por diversas vezes com sobreviventes de doenças críticas que passaram longo período em UTI, e desenvolveram diretrizes de prática clínica para prevenção e tratamento da dor em pacientes críticos, destacando as necessidades de maiores investigações para melhorar o manejo da dor, agitação, sedação, delírio, imobilidade e sono em pacientes internados. Uma vez que os parâmetros vitais não devem ser utilizados para indicar processos álgicos em adultos em UTI, as escalas são citadas como ferramenta mais confiável para quantificação álgica em adultos internados com possibilidade de verbalização. Pacientes intubados podem se beneficiar da Escala de dor para pacientes intubados (BPS) e os não intubados pela Escala de dor para pacientes não-intubados (BPS-N). Para os adultos com impossibilidade de reportar sua dor, destaca-se a escala das faces de dor. Pesquisadores concordaram que, ao se deparar com dificuldade em reconhecer ou quantificar a dor nesses pacientes, a família deve ser solicitada nesse processo.1

O bem-estar dos cães internados devem ser o pilar no tratamento durante o período de internamento, garantindo a um meio ambiente seguro, higienizado, com dieta alimentar apropriada, livre de medo e angústia e respeitando a relação cão-tutor. Assim, o cão hospitalizado é poupado de novos traumas, dificultando a infecção cruzada no ambiente hospitalar. Os principais sintomas vistos durante o período de internamento em cães hospitalizados são: apatia, prostração, medo, agressividade, êmese, sialorreia, hiporexia podendo chegar à anorexia, retenção de urina ou fezes, lambedura compulsiva, vocalização, tremores, taquicardia, hipertensão, taquipneia, entre outros. Dessa forma, os sintomas da dor podem interferir no diagnóstico e prognóstico da doença do cão hospitalizado, levando ao prolongamento do internamento.2

Na prática hospitalar veterinária a avaliação de dor aguda em cães internados é feita através da escala análoga visual de interação dinâmica (DIVAS - dynamic interactive visual analogue scale), que incluiu a observação das alterações nos parâmetros fisiológicos, comportamentais e na interação física entre o observador e o paciente. A adição da interação física do observador com o paciente, incluindo a palpação da ferida (ou região dolorida), aumentou a sensibilidade discriminativa da DIVAS.3

Dentre as técnicas não-farmacológicas, o enriquecimento ambiental pode ser aplicado em internações como forma de enriquecimento social, cognitivo, físico, sensorial e nutricional, podendo reduzir o uso de analgésicos. Diversos estudos têm demonstrado a importância da aromaterapia, auxiliando no alívio da dor pós-operatória em procedimentos como esternotomia ou cesariana ou efeito anti-hiperalgésico em modelo de dor neuropática em ratos. O uso de feromônios apaziguadores de cães têm demonstrado efeitos benéficos na amenização de ansiedade e reduzindo comportamentos desconfortáveis em cães submetidos à hemilaminectomia após extrusão aguda de disco intervertebral. A exposição à música clássica aumenta a atividade antinociceptiva de medicações analgésicas em modelo de dor inflamatória e cirúrgica em camundongos, reduz dor pós-operatória e ansiedade em seres humanos hospitalizados. Não menos importante, o médico veterinário intensivista deve ter ciência que interações positivas com seres humanos também são de suma importância, uma vez que cães são animais altamente sociais, cujo bem-estar é melhorado pelas interações humanas, não devendo-se limitar esse contato apenas à procedimentos estressantes.4

Em casos de longos períodos internamento os cães podem ainda sofrer com a falta de exercício, seja pelo espaço confinado, por estar debilitado ou por não se mover devido ao medo de sentir dor, podendo desenvolver a síndrome de imobilismo, a qual está relacionada a um conjunto de alterações fisiológicas e comportamentais que ocorrem em cães hospitalizados por um longo período, especialmente aqueles que permanecem em decúbito lateral. Essa síndrome pode levar a uma série de complicações, como perda de massa muscular, atrofia óssea, úlceras de pressão, infecções, entre outras. Para prevenir a síndrome do imobilismo, é importante que os cães hospitalizados sejam estimulados a se movimentar, mesmo que seja por meio de exercícios passivos, como massagens e alongamentos. Além disso, é fundamental que os cães recebam uma dieta adequada e hidratação suficiente para manter a saúde e o bem-estar durante o período de internação.5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico e controle da dor são de suma importância para um desfecho de sucesso em caso de cães hospitalizados, que além de serem submetidos a protocolos farmacológicos e de terapias complementares, deve-se também atentar a outros aspectos importantes como a otimização do ambiente em que se encontram e manejo nutricional adequado. A hospitalização deve priorizar cuidar do indivíduo de forma humanizada, contribuindo com a redução do estresse não apenas do paciente, mas também de sua família, preconizando o bem-estar e alta precoce do animal.

COMITÊ DE VETERINÁRIA

Roberta Cristina Campos Figueiredo Veterinária – São Paulo/SP

Marco Aurélio Lins de Bene Veterinário – São Paulo/SP

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Delvin JW, Skrobik Y, Gélinas C, Needham DM, Slooter AJC, Pandharipande PP, Watson PL, Weinhouse GL, Nunnally ME, Rochwerg B, Balas MC, Brummel NE, Chanques G, Denehy L, Drout X, Fraser GL, Harris JE, Jofre AM, Kho ME, Kress JP, Lamphere JA, Neufeld KJ, Pisani MA, Payen, JF, Pum BT, Puntillo KA, Robinson BRH, Shehabi, Y, Winkelman C, Centofanti, JE, Price C, Nikaiyn S, Misak CJ, Kiedrowsky K, Alhazzani W. Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Manegement of Pain, Agitation/Sedation, Delirium, Immobility and Sleep Disruption in Adult Patients in the ICU. Crit. Care Med. 2018 Sep;46(9) te 825-873. doi:10.1097/CCM.0000000000003299. PMID:30113379.
2. Aguiar ROG, Ribeiro ARB, Balda AC, Ribeiro, PMT. O bem-estar de cães na prática hospitalar, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, 2017;14(26):446-456.
3. Lascelles BD, Capner CA, Waterman-Pearson AE. Current British veterinary attitudes to perioperative analgesia for cats and small mammals. Veterinary Record. 1999 Nov; 145(21):601-604.
4. Penninghton E, Springer C, Albright J, Castel A. mEvaluation of different methods of environmental enrichment to control anxiety in dogs undergoing hemilaminectomy after acute intervertebral disc extrusion: a randomized double-blinded study. Front Vet Sci. 2023 May 30;10:1124982.doi:10.3389/ fvets.2023.1124982.PMID: 37323840; PMCID10267703.
5. Davies, L. (2013). Canine Rehabilitation. In Pain Management in Veterinary Practice (eds. Egger CM, Love L, Doherty T). https://doi. org/10.1002/9781118999196.ch11.


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