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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


Dor Total do Câncer

A dor é um dos sintomas mais comuns e mais angustiantes descritos por pacientes que sofrem de câncer. Entretanto, não é puramente uma experiência física, mas envolve vários componentes do funcionamento humano, incluindo personalidade, humor, comportamento, e relações sociais. Na tentativa de descrever a natureza holística da dor dentro de uma estrutura da “pessoa total”, Cecília Saunders criou o conceito “da dor total” [4]. Ela sugeriu que a dor tenha componentes psicológicos, sociais, emocionais, e espirituais que compõe “a experiência da dor total”. Contudo a contribuição de cada componente será específica a cada indivíduo e a sua situação. Este conceito foi bem aceito na comunidade de cuidados paliativos, embora alguns tenham preferido alargar o conceito “de sofrimento total,” que inclui sintomas múltiplos, mas igualmente estende-se além do físico as ameaças à integridade da pessoa e de um sentido iminente de desintegração de um mundo familiar [2].

Dor Total:

  • Física:
  • Causada por co-morbidades
  • Causada pelo tratamento
  • Causada pelo câncer
  • Social:
  • Perda de papel e status social
  • Perda do emprego
  • Preocupações financeiras
  • Preocupações sobre o futuro da família
  • Dependência
  • Espiritual:
  • Medo do desconhecido
  • Procurando significado
  • Perda da fé
  • Raiva do destino/Raiva de Deus
  • Psicológico:
  • Experiência de doença anterior
  • Depressão
  • Medo do sofrimento
  • Ansiedade

A dor física pode ser causada por efeitos diretos do tumor, tratamento, debilidade geral, e por co-morbidades não-relacionadas. A aflição espiritual freqüentemente é negligenciada em avaliações clínicas e incluirá perguntas existenciais, a busca por significado e finalidade, e a raiva no “destino,” assim como questões específicas de fé em alguns pacientes. A dor social relaciona-se à posição que o paciente tem dentro da sociedade e cultura, problemas financeiras, e o impacto que a dor tem na família e nos cuidadores. A dor psicológica causa e é afetada pelo medo, ansiedade, e depressão.

Uma revisão sistemática identificou uma associação entre a aflição psicológica, a falta de sustentação social, e a dor do câncer [7]. Os aspectos cognitivos, emocionais, sócio-ambientais e nociceptivos da dor e as interações entre estes fatores foram discutidos por muitos autores [1.3.5]. Outros tentaram desenvolver um modelo para as intervenções multimodais [6]. Esta abordagem de conduta da dor reconhece o papel de pensamentos e crença dos pacientes idiossincrásicos em influenciar a resposta comportamental à dor. Experiência dolorosa anterior, influências da família e do contato com profissionais de saúde exercerá um papel.

Uma abordagem biopsicossocial para avaliar e tratar é necessária que leve em consideração todas estas áreas da experiência da dor. Esta abordagem exige uma equipe multidisciplinar que inclui médicos de diferentes disciplinas (tais como cuidado paliativo, oncologia, dor crônica, e ortopedia), enfermeiras, assistentes sociais, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, e capelães. Os aspectos físicos da dor não podem ser tratados isoladamente. O termo “dor irrelevante para opiáceo” é usado às vezes para descrever os componentes da dor que não são tratáveis com analgésicos, tais como o medo ou a aflição financeira, que precisam estratégias de conduta diferentes. Os vários componentes devem ser objetivados e tratados simultaneamente, e falha em fazer assim significará que a dor está tratada inadequadamente em muitos casos. Além disso, o reconhecimento de que algumas contribuições para a dor podem ter raízes nos problemas de longa data que não são resolvidos facilmente e de que os pacientes podem se esforçar para distinguir diferentes componentes permitirá que a equipe estabeleça objetivos realísticos do tratamento.

Referências

  1. Breitbart W, Payne D. In: Holland J, editor. Psycho-oncology. New York: Oxford University Press; 1998. p. 450-67.
  2. Cassel EJ. The nature of suffering and the goals of medicine. N Engl J Med 1982;306:639-45.
  3. Padilla GV, Ferrell B, Grant MM, Rhiner M. Defining the content domain of quality of life for cancer patients with pain Cancer Nurs 1990;13:108-15.
  4. Saunders CM. The management of terminal malignant disease, 1st ed. London: Edward Arnold; 1978.
  5. Sela RA, Bruera E, Conner-Spady B, Cumming C, Walker C. Sensory and affective dimensions of advanced cancer pain Psychooncology 2002;11:23-34.
  6. Syrjalak K Chapka M. Evidence of a biopsychosocial model of cancer-related pain. Pain 1995;61:69-79.
  7. Zaza C, Baine N. Cancer pain and psychosocial factors: a critical review of the literature. J Pain Symptom Manage 2002;24:526-42.

Tradução: Dr. Carlos Maurício de Castro Costa – Presidente da SBED (2009-2010)

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