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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


A Dor das Mulheres nos Países em Desenvolvimento

A dor está presente em todas as sociedades e é uma conseqüência predizível de eventos, tais como um traumatismo ou uma doença. A dor tem implicações socioeconômicas, de saúde e qualidade de vida significativas.

A prevalência da maioria dos tipos de dor pode ser mais alta nos países em vias de desenvolvimento que nos países desenvolvidos devido a uma variedade de razões, tais como recursos muito limitados, pobreza, ignorância e sistemas, políticas e prioridades muito deficientes em relação à saúde.

As mulheres de países em vias de desenvolvimento têm mais probabilidades de sofrer dor e também têm menos probabilidades de receber um tratamento adequado que seus pares do sexo masculino devido a normas sociais, a cultura e as políticas governamentais (1,2).

Existem determinadas condições dolorosas que, por natureza, só aparecem na mulheres, como por exemplo, a dor menstrual, a dor durante a gravidez e o parto, os tumores no sistema genital feminino, as mutilações genitais femininas, e a violência e o abuso sexual. Geralmente, a faixa de opções de diagnóstico e tratamento é muito limitada.

As pessoas de países em vias de desenvolvimento geralmente sofrem uma ‘carga dupla’ de doenças tanto contagiosas como não-contagiosas que contribuem de forma significativa aos altos níveis de prevalência e carga de dor e sofrimento. Oitenta por cento dos pacientes com câncer de países em vias de desenvolvimento que têm câncer avançado incurável se encontram com a única terapia possível que é geralmente a dos cuidados paliativos.

A carga da doença de câncer de colo uterino é substancial, em contraposição com os países desenvolvidos nos quais já não é comum devido a intervenções no campo das avaliações de detecção. Na África, se estima que 67.761 mulheres morrem a cada ano por causa da doença (4). O objetivo de contar com avaliações integrais de detecção para a população e prevenção primária com vacinas contra o papilomavírus humano (human papillomavirus), continua sendo um sonho longínquo, e existem importantes desafios relacionados com a prestação de serviços de cirurgia, radioterapia ou controle da dor para aqueles que o necessitam. O fornecimento de opióides para aquelas pessoas que têm dor por causa do câncer são geralmente problemáticas devido à legislação restritiva e a ansiedade infundada por parte dos profissionais no que diz respeito ao risco ao vício.

As taxas de mortalidade materna nos países em vias de desenvolvimento são as maiores, e alcançam 99% do total das mortes maternas de todo o mundo, com aproximadamente meio milhão d mulheres que ainda morrem por causas (que em sua maioria podem ser prevenidas) relacionadas com a gravidez e o parto (5). Na África, o risco de morte de uma mulher durante toda a sua vida por causas relacionadas coma gravidez é de 1 em 16; na Ásia, de 1 em 65; e na Europa, de 1 em 1.400. Estes dados escondem uma carga muito maior de complicações e sofrimento que acontecem sem assistência ou atenção médica.

Os países em vias de desenvolvimento, especialmente a área da África que se encontra abaixo do deserto do Saara, são os mais afetados pela epidemia do HIV/AIDS, com três quartos do total dos casos em todo o mundo. A chegada desta epidemia provocou um drástico aumento da incidência dos tumores relacionados com a tuberculose e a AIDS. A prevalência da dor do HIV/AIDS é significativamente mais alta nas mulheres dos países em vias de desenvolvimento. A desigualdade relacionada com o gênero é a razão mais importante da vulnerabilidade das mulheres diante da infecção pelo HIV (2).

As condições de trabalho e de emprego podem diferir entre os distintos sexos. É mais provável que as mulheres trabalhem no setor informal no qual, geralmente, são expostas a um ambiente de trabalho nocivo, a benefícios sociais desiguais, a um maior risco de discriminação, e ao assédio físico e sexual.

Devido a recursos muito limitados e a sistemas de saúde frágeis distribuídos entre a enorme carga de doenças, o manejo da dor nas mulheres dos países em vias de desenvolvimento tem um grau de prioridade muito baixo. Deste modo, seria valioso se fosse reconhecido mais universalmente em que medida o bom manejo da dor pode melhorar a economia de um país.

Existem disparidades de gênero conhecidas na saúde e na atenção médica em geral, e no manejo da dor em particular (1-3). Devemos aproximar-nos com urgência a esta disparidade de gêneros na atenção médica e eliminar-la outorgando-lhes poderes às mulheres, a fim de que possam proteger e melhorar sua saúde e sua qualidade de vida.

Copyright International Association for the Study of Pain, September 2007. References available at www.iasp-pain.org

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