A Dor das Mulheres com Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV/AIDS)
A dor associada com o HIV/AIDS é sumamente prevalente, diversa e variada no que diz respeito à apresentação da síndrome e está associada com morbidade psicológica e funcional significativa.
A dor, em geral, é mais prevalente nas mulheres e sabe-se que é mais intensa, freqüente, estendida e duradoura.
As síndromes de dor associadas com o HIV/AIDS podem estar diretamente relacionadas com a infecção pelo HIV ou a imunossupressão, as terapias contra o HIV e aquelas relacionadas ou não com a AIDS. Estes sintomas incluem: neuropatia periférica, sarcoma de Kaposi estendido, dor de cabeça, bucal, faríngea, abdominal e de peito, gastralgias, mialgias, e condições dermatológicas dolorosas.
Ao haver mais mulheres com HIV, mais mulheres experimentarão dor e isto inclui síndromes únicas de dor de natureza ginecológica especificamente relacionadas a processos infecciosos oportunistas, e tumores da pélvis e do trato geniturinário.
Epidemiologia
As mulheres representam a percentagem mais alta de pessoas com HIV positivo recentemente infectadas em todo o mundo.
A epidemia da AIDS é pior na área da África que se encontra abaixo do deserto do Saara, aonde se infecta em média três mulheres por cada dois homens; entre as pessoas jovens (entre 15 e 24 anos), a proporção aumenta para três mulheres jovens para cada homem jovem.
Em 80% dos casos, não se proporciona um tratamento adequado para a dor associada com a AIDS. Isto é ainda pior no caso das mulheres que, além disso, não recebem um diagnóstico adequado. Nos países de recursos escassos, tais como os da África, América do Sul e Ásia, o acesso à terapia anti-retroviral (antiretroviral therapy) e aos cuidados paliativos pode ser limitado.
Barreiras
As barreiras que interferem com o manejo da dor por parte dos médicos são: a falta de conhecimento no que diz respeito ao manejo da dor e o acesso aos especialistas de dor, a reticência a receitar opióides, a preocupação pelo vício ou abuso de drogas, a falta de apoio psicológico e de serviços de tratamento farmacológico.
As mulheres encontram barreiras para ter acesso a programas de tratamento devido aos preconceitos e as desigualdades no tratamento de mulheres e crianças (especialmente meninas), e isto pode incluir pobreza, abuso, conflito por guerra e violência.
No geral, as mulheres experimentam falta de informação e é possível que tenham dificuldades para compreender, especialmente nos países em vias de desenvolvimento, que suas condições dolorosas podem ser parte do HIV, que é reconhecido como tal e que pode ser tratado.
Em geral, as mulheres aceitam sua experiência de dor e é possível que não se queixem ou aceitem a falta de tratamento adequado como algo habitual devido às expectativas culturais e, portanto, não dão importância à dor e a outros sintomas por considerá-los normais.
As mulheres com ou sem HIV/AIDS são as que requerem toda a atenção. No geral, a maioria dos recursos familiares se destinam a cuidar do marido e dos filhos.
O estigma e a discriminação são muito mais fortes contra as mulheres que estão em risco de sofrer violência, abandono, ostracismo, destituição e recusa por parte da família e da comunidade. É possível que elas sejam culpadas pela propagação da doença ainda quando a maioria delas tenham sido infectadas por seu único par ou marido.
O manejo clínico se baseia na pesquisa realizada em homens; e é necessário obter mais conhecimento e educação sobre o manejo clínico do HIV/AIDS e a dor nas mulheres.
Fatores de predisposição
No geral, violam-se os direitos sexuais das mulheres, e as predispõe a contrair HIV/AIDS devido à pobreza e ao controle da vida das mulheres pelos homens.
É comum observar antecedentes de abuso físico, sexual/de menores nas pessoas infectadas pelo HIV; até dois terços dos pacientes informam ter sido abusados durante sua vida.
As mulheres recebem atenção deficiente em relação à reprodução, a sexualidade e outras necessidades de saúde, a nutrição e os serviços médicos.
Co-morbidades
Observou-se que as mulheres HIV positivas tiveram o quádruplo de probabilidades (19,4%) de cumprir os critérios clínicos de transtorno depressivo maior atual que as mulheres HIV negativas (4,8%), que apresentaram muitos mais sintomas de ansiedade.
Todas as formas de sexo por coação aumentam o risco de sofrer microlesões e, portanto, doenças de transmissão sexual; isto inclui práticas culturais nocivas, como a mutilação de genitais e o sexo sem lubrificação.
Tratamento e apoio
É possível que se requeira o uso de analgésicos opióides para o manejo da dor intensa, e podem usar-se nestes pacientes, inclusive naqueles que são viciados em drogas, seguindo as pautas adequadas.
O manejo dos sintomas nos cuidados paliativos do HIV inclui manejar a dor e abordar o esgotamento, o estresse, a depressão e a anemia.
A natureza e a doença, a infra-estrutura de saúde pública deficiente e outros fatores requerem melhores cuidados paliativos baseados na comunidade. Isto inclui um aumento de financiamento e o apoio do governo, maiores padrões de capacitação clínica, melhoramento do controle da dor através do assessoramento sobre políticas farmacológicas, cuidado de órfãos, geração de ingressos e segurança dos alimentos.
Redução da vulnerabilidade das mulheres melhorando sua educação; mudança das normas sociais que perpetuam as atitudes masculinas e a violência contra as mulheres; aumento da disponibilidade de tratamentos que melhorarão as condições das mulheres e reduzirão o sofrimento; mudança das atitudes e das presunções negativas acerca do papel das mulheres; melhora da capacidade das mulheres para adquirir propriedades e ser economicamente independentes; desafiar a discriminação contra as mulheres, e assim as mulheres terão poder para ajudar-se a si mesmas.
Copyright International Association for the Study of Pain, September 2007.