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Capítulo Brasileiro da Internacional Association for the Study of Pain - IASP


A Dor Associada com o Gênero e o Cérebro

Várias revisões demonstraram que as mulheres respondem aos estímulos nocivos e possivelmente nocivos experimentando mais dor que os homens (1,2). Em particular, as mulheres tendem a ter um limiar de dor reduzido em comparação com os homens; as mulheres sentem dor diante de estímulos de menor intensidade que os homens. Além disso, existem muitas condições de dor que são mais freqüentes em mulheres: Berkley enumerou 38 transtornos de dor clínica que prevalecem nas mulheres, mas somente 15 que prevalecem nos homens, e 24 que não têm prevalência no sexo. Então, é tentador sugerir que as mulheres têm um perfil biológico que as predispõe a experimentar dor diante de intensidades de estímulos de dor mais baixas e, assim, sofrem um grau de dor clínica desproporcionado.

Esta hipótese geral está respaldada por estudos em animais que demonstraram, por exemplo, maior analgesia induzida pelo estresse mediada com opióides em ratos em comparação com ratas (3,4). A analgesia induzida pelo estresse pode ser suprimida pelo estrógeno, o que aumenta a possibilidade de que as diferenças hormonais entre os homens e as mulheres contribuam a diferenças quanto à percepção da dor (5). Em comparação, evidências mais recentes, obtidas utilizando a tomografia por emissão de pósitrons para avaliar diretamente a união dos opióides in vivo, demonstraram maior disponibilidade de receptores opióides e ativação de opióides endógenos durante a presença de um estímulo nocivo em um estado de comparação de estrógeno alto com estrógeno baixo (6). As diferentes funções dos distintos mecanismos mediados com opióides sob distintas condições ainda não foram pesquisadas.

Os avanços relacionados com a tecnologia de diagnóstico por imagens do cérebro permitem que as diferenças cerebrais entre gêneros possam ser avaliadas diretamente nas populações humanas. Existem por exemplo, diferenças estruturais relacionadas com o gênero, o que inclui o tamanho e a morfologia do corpo caloso, a área hipotalâmica pré-óptica, o plano temporal, a porcentagem de substância cinzenta no cérebro humano e a densidade dos neurônios. Além disso, está muito bem estabelecido que os homens e as mulheres têm diferentes habilidades espaciais e verbais, e estas diferenças se correlacionam com as diferenças de gênero na função cerebral (7). As diferenças clínicas e de comportamento observadas na resposta à dor também podem estar relacionadas com as diferenças estruturais e funcionais entre os homens e as mulheres.

Em 1998, Paulson e outros demonstraram maiores respostas na ínsula anterior e o tálamo nas mulheres; e demonstraram ativação pré-frontal no hemisfério direito nos homens, e no hemisfério esquerdo nas mulheres ao usar calor nocivo (8). Em 2002, Derbyshire informou uma maior ativação do córtex cingular perigenual e ventral nas mulheres e uma maior ativação dos córtices parietal, sensorial secundário, pré-frontal e insular nos homens ao usar estímulos de laser nocivos (9). Além disso, em 2002, Berman e outros informaram maior atividade insular nos homens ao receber uma distensão retal aversiva, em oposição à maior atividade insular nas mulheres, observada num estudo anterior de distensão retal realizado por Kern e outros (2001). Mais recentemente, Moulton e outros (2006) demonstraram uma redução na ativação no córtex sensorial primário cingular anterior e pré-frontal ao receber calor nocivo nas mulheres em comparação com os homens, um resultado que difere dos de Derbyshire e outros (2002) e Paulson e outros (1998). Estas descobertas no campo do diagnóstico por imagens do cérebro são intrigantes, mas a considerável variação entre os estudos permanece aberta a interpretação. As variações nos padrões de atividade são uma boa razão para ter cuidados antes de especular muito no que diz respeito à influência do gênero nas diferenças do diagnóstico por imagens do cérebro durante os estímulos nocivos.

Uma possível razão para esta variabilidade é o fato de que a dor é complexa e uma enorme quantidade de fatores pode influenciar as descobertas em amostras relativamente pequenas. Foi sugerido que os efeitos de critério, as diferenças de tamanho corporal, a grossura da pele ou a pressão arterial sistólica, as expectativas sociais, a variação cognitiva, o método de estimulação e as diferentes características psicológicas, tais como a ansiedade e a depressão, estão relacionadas com as diferenças de gênero observadas na resposta à dor. Também se começou a prestar maior atenção à flutuação biológica produzida pelo ciclo menstrual.

Estão aumentando os estudos de diagnóstico por imagens do cérebro relacionados com o tema, e existe uma interessante possibilidade de elucidar as possíveis fontes de variação a fim de compreender mais claramente os mecanismos subjacentes à dor em geral, assim como o modo em que os fatores de sexo e gênero contribuem a estas variações.

Copyright International Association for the Study of Pain, September 2007. References available at www.iasp-pain.org

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